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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ciência: Se você não cometer erros, está fazendo errado...


Ciência
Se você não cometer erros, você está fazendo errado.
Se você não corrigir esses erros, você está fazendo muito errado.
Se você não consegue aceitar que está errado, você não está fazendo de maneira alguma.

Até o ano passado, existiam dois tipos de revistas científicas (generalizando bastante). Agora existem três! A grande maioria das revistas são aquelas que publicam estudos com descobertas significativas. Ou seja, o trabalho deve ser inédito e trazer alguma contribuição à área. E muitas vezes, não basta trazer UMA contribuição, deve ser uma grande contribuição. E a diferença entre contribuição, grande contribuição e pequena contribuição é muito subjetiva.

Já tinha explicado aqui como a ciência funciona (simplificadamente). Temos uma pergunta, formulamos uma hipótese, pensamos nos experimentos que precisamos fazer para testar e essa hipótese, fazemos os experimentos, e vemos se os resultados sustentam a hipótese ou não. E, não raro, apesar de belíssima (e de dar muito trabalho) a teoria é refutada. Resumindo, não descobrimos qual é a explicação de um determinado fenômeno, mas descobrimos qual NÃO é. Isso é importante, pois resultados negativos são resultados, e a sua publicação evita duplicação de esforços, ou seja, cientistas da mesma área não irão tentar os mesmos experimentos, e além disso, a publicação abre espaço para discussão sobre os motivos pelos quais os experimentos não tiveram os resultados esperados. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: economia de tempo e de recursos.

O grande problema é que as revistas tradicionais não costumar ver com bons olhos trabalhos onde uma explicação convincente não é alcançada (pra eles, isso não é uma contribuição significativa), a não ser que venham de grupos de pesquisa muito conceituados na área. Então refutações de hipóteses ficavam sem um lugar para serem publicadas, mesmo que fossem bem estruturadas (e tenham sido resultado de muito investimento financeiro e de tempo de trabalho). Literalmente, um desperdício.

Por isso, de uns tempos pra cá, um segundo tipo de revista científica passou a existir, as revistas dos resultados negativos! Isso mesmo, o negativo tá até no nome: Journal of Negative Results in Biomedicine, Journal of Negative Results — Ecology andEvolutionary Biology, Journal of Pharmaceutical Negative Results , Journal of Interesting Negative Results, entre outros… Não se engane, o objetivo não é publicar resultados errados, mas sim resultados negativos e essa diferença é muito maior do que você imagina. Tecnicamente, tudo deve ser perfeito. Essas revistas publicam pesquisas de refutação de hipóteses, não pesquisas feitas com experimentos errados ou que não funcionaram! Nem adianta tentar publicar aquele Western Blot* que nunca apareceu banda nenhuma!

E agora, um terceiro e inusitado tipo de revista científica pode acelerar ainda mais o progresso da ciência no mundo. Chama-se Journalof Errology, e seu objetivo principal é a publicação de pesquisas que NÃO deram certo, mas que não deram certo mesmo! Como aquele problema que você nunca conseguiu solucionar, não importa o quão bom estivesse na teoria, como o seu Western Blot que nunca funcionou. Ela também aceitará resultados negativos, mas o foco dela será aqueles obstáculos que sempre aparecem em qualquer trabalho, como um protocolo que nunca funcionou como deveria, e como o pesquisador conseguiu contorná-lo ou substituí-lo. E erros, sim, erros!

A revista tem como editor o biólogo Eduardo Fox, da UFRJ, e aceitará trabalhos de todo mundo. A revista conta ainda com outra inovação, essa no campo da revisão dos artigos. Tradicionalmente, os trabalhos são recebidos nas revistas e revisados por alguns cientistas da área que irão analisar se os experimentos estavam adequados, se todos os controles foram realizados, se as conclusões estavam bem fundadas e etc... E esses revisores darão um parecer favorável ou desfavorável à publicação do estudo. O problema é que cada cientista tem seus “assuntos preferidos”, digamos assim, e não é simples dissociar isso do trabalho de revisão. Isso numa revista que tem como objetivo a publicação de resultados errados poderia ser desastroso. Por isso, a Journal of Errology contará com um sistema inovador. A revisão poderá ser feita através de discussões online, feita por diversos cientistas (ao invés de 2 ou 3 como é o sistema tradicional de revisão). Seria um sistema aberto de revisão.

Ao publicar seus resultados errados (com a explicação do que foi feito para contornar os problemas ou não) você pode contribuir com outras pessoas que estavam tendo o mesmo problema que você. Quase como aquele cara que faz uma pergunta na aula que ninguém tinha coragem de fazer, mas que todo mundo tinha, e acaba resolvendo o problema dele e dos outros. E se você não tiver conseguido achar uma solução ainda, poderá contar com a ajuda da revisão aberta para tentar solucioná-lo.

É ou não é uma contribuição à ciência? Como descrito na própria página do Journal:
Nós da Journal of Errology acreditamos que além de compartilhar os resultados bem sucedidos, é importante que os pesquisadores compartilhem experiências de suas tentativas e desapontamentos. Cada descoberta ou invenção tem sua cota de falhas, erros e problemas. Qualquer pesquisador que negue ter algo para compartilhar nesse Journal de seu passado ou presente nunca ousou se aventurar além daquilo que já é conhecido e inovar.
Agora é oficial, não importa o que sair da sua tese, algum lugar pra publicar você vai ter!

Por Luiza Montenegro Mendonça.


Figura retirada daqui.


*Pra quem não conhece, Western Blot é uma técnica de identificação de proteínas particularmente complicada de se fazer e onde as proteínas são identificadas através de bandas em filmes radiográficos, logo, se nada aparece, não funcionou...


A dica para esse post veio da minha amiga Raquel Amorim.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Enquanto isso, num portal de um conglomerado qualquer...


Uau! Incrível! Gêmeos univitelinos (que derivaram de um mesmo óvulo e um mesmo espermatozóide) que nasceram com 5 anos de diferença? Preciso ler!

Só que lendo a matéria a gente percebe que não é bem assim. Pra começar, você descobre que os gêmeos são menino e menina (o quê???), o que de cara descarta a hipótese de serem univitelinos, já que esse tipo de gêmeos tem o mesmo DNA, e portanto, sempre são do mesmo sexo.

Bom, talvez eles não sejam univitelinos, gerados de mesmo óvulo e mesmo espermatozóide, mas tenham vindo do mesmo óvulo, como informava no site. Só que isso não é possível! Cada óvulo é único. Tanto óvulos quanto espermatozóides são gametas, células haplóides (n) com o objetivo de reprodução sexuada. Pense só, na espécie humana as células tem 23 pares de cromossomos (são diplóides, 2n), total 46 cromossomos. Mas se um embrião é resultado da fusão de um óvulo com um espermatozóide (e supondo que eles fossem diplóides), esse embrião teria 46 pares de cromossomos, 92 cromossomos! Certeza de retardo mental severo! Sabemos que cromossomos a mais nunca dão certo... Por isso existem a meiose e os gametas. A meiose é um tipo de divisão celular que reduz pela metade o número de cromossomos da célula. Os cromossomos continuam (quase) os mesmos, só que ao invés de pares de cromossomos, a célula termina com apenas uma cópia de cada um deles. Eu digo quase os mesmos porque durante a meiose ocorre uma recombinação genética chamada cross-over, o que faz com que cada óvulo e espermatozóide sejam únicos (e garante que você não seja igual aos seus irmãos, apesar de terem os mesmos pais).

Além do mais, gametas não fazem mitose (a divisão celular que resulta em duas células filhas idênticas, como clones). Logo, a possibilidade de um óvulo ter se dividido e sido fecundado por dois espermatozóides diferentes também não existe.

E lembrem-se, cada óvulo é fecundado por um único espermatozóide. Não existe a hipótese de um óvulo ser fecundado por dois espermatozóides diferentes (isso daria uma célula 3n! E nem me pergunte o que sairia dessa bagunça!).

No final da matéria você descobre que chamar os dois irmãos de gêmeos é meio forçado. Na verdade, a mãe fez um tratamento de fertilidade, produziu 5 óvulos diferentes que foram fecundados por 5 espermatozóides diferentes. Desses 2 foram implantados e deram origem ao menino. Os outros foram congelados e cinco anos depois, um foi descongelado, implantado e deu origem à menina. Eles seriam gêmeos simplesmente porque foram fecundados na mesma “batelada”. Bom, eles não têm o mesmo DNA (como univitelinos), nem vieram de óvulos e espermatozóides diferentes mas dividiram o mesmo útero por nove meses (como gêmeos bivitelinos fariam). Bom, pelo menos eles não dividiram o mesmo útero ao mesmo tempo... Você e seu irmão também se abrigaram no mesmo útero por nove meses (apesar de não ao mesmo tempo) e ninguém chama vocês de gêmeos, chama?

Enfim, esse é só um exemplo de como as coisas às vezes são mal-comunicadas. Nenhum jornalista tem o dever de saber tudo sobre todos os assuntos que ele divulga (imagine um editor-chefe de um jornal tendo que saber tudo sobre política, economia, ciência, tecnologia, fofoca, cultura e a programação dos cinemas?). Mas ele deve ter suporte de especialistas para impedir que informações erradas sejam veiculadas, como nesse caso. A matéria no caso, nem tinha nenhuma informação incorreta, só o link da página inicial do portal. Bom, de qualquer maneira, o erro está corrigido aqui (e já foi corrigido por lá).

Quem sabe um dia me chamam pra fazer consultoria pro site?


Por Luiza Montenegro Mendonça, muito orgulhosa porque finalmente conseguiu deixar o texto do post com o alinhamento justificado!
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