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sábado, 15 de setembro de 2012

O futuro das universidades – Entrevista com Bruce Alberts, parte 2.




Sendo Bruce Alberts uma pessoa muito ligada à inovação na educação, havia uma pergunta, que eu já vinha remoendo há algum tempo, que eu não podia deixar passar.

Trata de uma preocupação/reflexão real minha. Qual será o papel da universidade em nossa sociedade no futuro? Sendo uma pessoa que passa quase metade do dia na universidade, não preciso dizer que tenho muito apreço por esses locais. No entanto, reconheço que ainda há muita coisa ultrapassada no sistema atual pelo qual a universidade funciona.

Tornei-me professora (temporária) há pouquíssimo tempo, mas por outro lado ainda sou estudante de doutorado. Por isso, acho que estou numa posição muito interessante (e estranha). Como diria um amigo meu, estou aos pouco indo pro lado escuro da força... Nessa posição bizarra, me preocupo em tentar não cometer aquelas coisas que pessoalmente, como aluna, sempre achei equivocadas. Uma dessas coisas é a freqüência exigida em sala de aula. Porque ela deveria ser exigida? Muitas pessoas justificam o fim da freqüência obrigatória com o argumento de que na universidade, as pessoas devem ser maduras o suficiente para cumprir a freqüência sem a necessidade do professor ficar de babá. Mas esse argumento, apesar de até verdadeiro, também me parece equivocado, e minha justificativa do fim da exigência da freqüência é bem diferente.

A freqüência é exigida pois pode ser um indicativo de que os alunos participaram da aula, ou seja, prestaram atenção e absorveram os conceitos passados. Pode, mas nem sempre é. Todos sabemos muito bem que há muitos alunos que estão presentes de corpo, mas não de espírito (por assim dizer) e estão na aula apenas esperando a chamada ser feita, pra não serem reprovados por falta. Não prestam atenção, não absorvem nada, e geralmente só atrapalham a aula.

A exigência da freqüência também reflete outra noção. A de que só é possível adquirir conhecimento na universidade, e que outras fontes não são confiáveis, ou de mesma qualidade. Essa impressão provavelmente é proveniente de uma época onde, de fato, a universidade era o maior e melhor repositório de conhecimento existente. Sendo assim, para receber um diploma era necessário não apenas passar nos exames, mas provar que de fato seu conhecimento provinha da melhor fonte possível.

Hoje a coisa mudou bastante. E tão rápido que provavelmente a universidade não teve tempo de acompanhar. Eu ainda me lembro quando a impressora arruinou o dever de casa favorito das professoras de português: procurar palavras específicas em cortes de jornal ou revistas. Bastava, escrever no Word, imprimir e pronto. Nada de perder tempo procurando! Se por um lado pra isso ainda era necessário que o aluno soubesse quais palavras imprimir, dispensava a o trabalho de leitura, que hoje anda mais deficiente que nunca.

Mas de qualquer maneira, com a internet, o conhecimento está em toda parte (o bom e o mau, como lembrou bem Bruce Alberts). E é relativamente possível aprender algo a contento, fora de uma sala de aula. Basta dedicação, disposição e paciência. Sim, muita paciência, porque, pelo menos pra mim, é muito mais difícil e demorado aprender algo sem um professor, e se eu tiver as duas opções, nunca hesitarei em escolher o método tradicional.

Sendo assim, faz sentido dispensar a freqüência em aula.

Mas aí vem o outro lado. Bom, se não será exigida freqüência, a universidade vai virar apenas um certificador? Fazendo provas para atestar que alguém detêm determinado conhecimento? É uma idéia um pouco triste pra mim, que vivo nela. E outro argumento, muito forte, que uma professora amiga minha me deu é: “Ora, se for pra não haver compromisso com a presença obrigatória, vira curso à distância! Os cursos tradicionais na universidade são presenciais, por isso é exigida a frequência.”

Pô, isso faz muito sentido. Mas o que expus anteriormente também...
E essa é só uma das minhas preocupações em relação à como a universidade irá se inserir no futuro.

Por isso, pedi uma luz ao Bruce Alberts, que tem uma idéia muito interessante de como a universidade pode evoluir e se adaptar a esse novo contexto. Vê aí no vídeo.



Eu acho que o importante mesmo pro ensino não é a freqüência, mas a interação (presencial ou não). Mas isso é fácil de falar, e difícil de fazer.

E, alunos, não fiquem achando que o fim da freqüência vai deixar a vida de vocês mais mole. Um reflexo natural e coerente disso são avaliações muito mais rigorosas. Afinal, se há freqüência, ao menos se espera que haja a absorção de alguns conceitos, e a avaliação se torna mais pra constar, do que pra avaliar. Por outro lado, pra garantir que o aluno aprendeu os conceitos de maneira alternativa (em outras fontes, sem que ele tenha freqüentado todas as aulas) a avaliação deve ser muito mais rígida. Afinal, o aluno pode ter aprendido errado com maior probabilidade (temos que considerar que a qualidade do ensino na universidade é considerada a melhor possível, um padrão ouro, por assim dizer). É uma troca, qual você preferiria?

A primeira parte da entrevista pode ser vista aqui.
Só pra saber, o cara que eu cito no vídeo, é Scott Young, e o blog dele é esse. Ele tá praticamente terminando o curso de Ciência da Computação do MIT (só faltam 3 disciplinas!), em um quarto do tempo e gastando muito menos (infelizmente, universidade de graça é muito raro no mundo, o Brasil é uma das poucas exceções). O blog é interessante, e tem muitas dicas de como aprender mais e melhor estudando por menos tempo (mas não necessariamente estudando menos, deu pra pegar a diferença?).
Por Luiza Montenegro Mendonça.
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